sábado, outubro 13, 2007

Diálogo

_ É meu caro: Parece-me que estamos presos.
_ Será mesmo?

_ É o que aparenta: Você ainda não esqueceu.
_ Ora... Deixe-me em paz! Que motivo te leva a relembrar tudo isto novamente?!

_ Você.
_ Como assim eu?

_ Você ainda está preso e leva-me contigo nesta jornada infrutífera.
_ Não, nada de frutos, não espero coisa alguma ao final desta caminhada...

_ Mesmo assim você está preso, ao menos consegue visualizar alguma saída?
_ Não.

_ Perguntei por mera formalidade... Não entendo de onde vem esse desejo tão grande.
_ Eu não sei! Não me pergunte.

_ Mas se nada espera no final, se é que há um fim, como pode isso tudo persistir?
_ Eu não sei, gostaria de saber, mas desconheço.

_ Raios!!! Como não sabe criatura??? Cá estamos nesta tensão desmedida, numa vontade contida e você me afirma que desconhece?
_ Você também é culpado de tudo isso!

_ Eu? Eu sempre lhe contestei!!
_ Sempre? Depois de certo tempo você também concordou, vez ou outra voltava a me questionar, mas este sonho não foi só meu!

_ Sonhos... pare de falar em sonhos.... prefiro os pesadelos estes ao menos são emocionantes.
_ Sim, concordo, mas só os sonhos são doces.

_ Dulçor que nossa lingüa não está apta a alcançar! Por favor esqueça tudo isso.
_ Hipócrita...

_ Sim! É provável! Muitas vezes é preferível trancar algumas coisas bem fundo, nega-las até o fim.
_ Não posso, eu tento, mas não consigo.

_ Uma vez só gostaria de estar a frente deste corpo!
_ Sobraria a mim ser sua má consciência, seu remorso.

_ Exato!
_ Mas eu sou o protagonista, quer queiramos ou não!

_ Por favor... Esquece! Tudo aquilo são fantasmas.
_ Eu não sou imbecil! Eu sei!

_ Você e eu sabemos que precisamos muito mais do que altares para róseas fitas de sandálias inalcançáveis.
_ Sim, cada vez mais, cada vez mais... No entanto não vejo saída no momento. Seria bem mais fácil se você não me lembrasse de certas coisas.

_ Infelizmente este sou eu.
_ Sim, infelizmente estes somos nós.

_ Dentro de um eu...
_ Um eu.