sexta-feira, outubro 17, 2008

De manhã

Suga o pássaro a seiva da laranjeira.
Luminosos limões frescos orvalhados.
Doce chá de cidreira:
Um vapor que me acolhe.

Na minha cadeira de palha fito a luz...
Ela transpaça as folhas das árvores,
Ilumina a queda d´agua.

Minhas roupas folgadas...
A camisa branca que ofusca minha vista.

Uma brisa fria anuncia um novo dia,
Acaricia minha tez.

Ouço um sibilo, asas batendo ao meu lado:
O passarinho furta-me um biscoito
E voa até o arbusto mais próximo.

Embebido nesta luz
Um sorriso, de leve, transpassa meu rosto morno.

Bom dia...
Bom... Dia...

segunda-feira, setembro 08, 2008

A palavra com "A"

Esta palavra do caralho...
Que, sendo forte para porra
Sempre deixou no meu peito um puta aperto.

E agora... Essa não... Vai se foder!
Mais uma merda deste cú de sociedade!
(sim, com acento mesmo: Pois "cu" com acento é bem mais cu)
Revelaram para mim que agora esta buceta de palavra é proibida!

E não há mais sequer um filho-da-puta que possa proferi-la sem ser censurado.

É foda...

Nem naquelas novelas de baba-ovos a palavra, que agora me refiro como "A palavra com 'A'", pode ser novamente dita sem que esses cornos corram para tapar seus ouvidinhos de bostas.

No entanto me auto-intitulo agora como um imoral!
Um boca suja fodido!
Rebelo-me!

E, antes (ou mesmo depois!) que gritar esta palavra se torne uma atentado a "moral e os bons costumes", vou gritar:

AMOR, AMOR!
AMAR é o que quero!

Prendam-me se puderem seus cu-de-burro...

sexta-feira, setembro 05, 2008

Explicação sucinta

Esse sorriso que minha face apresenta
É só uma máscara
Para minha mecânica profunda tristeza.

sábado, maio 31, 2008

Algum oculista de plantão?

_ Onde estão seus olhos?!
_ A onda os levou...
_ Onda?
_ A verdade, foi a onda da verdade.
_ E a visão se torna agora mais cristalina do que nunca.
_ Mas tu não enxergas!
_ Vejo no entanto.
_ E, tenho que admitir, as cores me fugiram (ou será que nunca existiram?)
_ Mas cá de meu lado está tudo em cores... Sim, definitivamente há cores.
_ Isto, agora posso entender, porque tu não vês, apenas enxerga.
_ Que idéia mais estapafúrdia... Diga lá: Qual a diferença?
_ Para ti nenhuma, são apenas dois verbos sinônimos, se é que há esta classificação para tais palavras.
_ Realmente deseja saber?
_ Sim, eu creio.
_ Enxerga aquela ilha?
_ Aquela que se mostra bela no horizonte?
_ Sim. Agrada-te? Deseja-a?
_ Deveras. Agora que disseste mais do que todo o resto.
_ Pois tente la chegar.
_ Está la a resposta?
_ Não. Esta revelar-se-á quando lhe apanhar uma de suas ondas.
_ O que espera? Vai-te!
_ Sim!
_ ...

_ Lá vai mais um que, se não morrer em sua busca, descobrirá que no horizonte ilha não há.

domingo, abril 20, 2008

Sobre um futuro não vindouro

Óh, vis, brutos e cínicos!
Eu, do alto de minhas paixões,
No topo do meu júbilo vos digo:

Que venci!
Venci!

E que apesar de tantas vezes ter escorregado no seu lodo,
De ter quase me prostrado de joelhos,
Estar a ponto de me lançar à sujeira, derrotado.
Mesmo dilacerado mantive-me, vacilante, de pé.

E quando, vendo-os chafurdar na lama, quis juntar-me à turba.
Algo, aqui dentro, manteve-me.

Vitória! Vãs almas.
Pois agora o céu se abre num mundo de possibilidades luminosas e deliciosamente assustadoras.
E o gás, que no espírito era antes nevoeiro, condensou-se, esquentou e tornou a mim em estrela cintilante.

Poderosa! Instigante.
Ao mesmo tempo quente e reconfortante.

Afastem-se pobres diabos! (Vejam quem vem lá...)
Vem minha amada.

De olhos brilhantes,
Sorriso admirável
E boca açucarada.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

O churrasco

Hum... Carro no espeto...
Douradinho por fora tenro por dentro.
No vinagrete de gasolina com pneus picadinhos.
Carro no espeto...

A parte dura é o virabrequim.

Carro no espeto sobre um braseiro de prédios.
(há que se queimar intensamente antes de começar o assado)

Mmmm... e quando chega no ponto?
O aroma de monóxido de carbono toma todo o ar!
E é claro que o cheirinho de hidrocarbonetos semi oxidados não pode faltar.

Mas os espetinhos de carros são apenas a entrada.
O melhor vem depois: Ônibus e caminhões!
Esses é preciso por na grelha, um pouco mais longe das chamas
Para que que assem lentamente.
E possam liberar sua suave aura de diesel pingando...

Pessoal!!! Já tem fusquinhas prontos!! Quem vai querer?!
Eu quero! Mau passado!

E o Scânia sai que horas?
Ainda vai demorar um pouquinho, vai um álcool anidro para abrir o apetite?

Gastrourbania...

Que delícia!

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Trinitro Tolueno

Dinamita! Dinamita!
Quero ver dinamitar!
Tocar fogo nesta joça.
Vamos lá vaporizar!

Dizem que há democracia!
Eis aí uma mentira!

Você pode opinar!
Só no dia da eleição
Pois é quando escolherá
Qual é o próximo ladrão!

Dinamita! Dinamita!
Quero ver dinamitar!
Tocar fogo nesta joça.
Vamos lá vaporizar!

A saúde de seu filho
A vida do teu amigo
A sua dignidade
Nada valem na verdade.

Você acha que escolhe?
Veja só a sua volta.
A corrupção revolta.
O Estado se articula
E lhe impõe essa derrota!

Dinamita! Dinamita!
Quero ver dinamitar!
Tocar fogo nesta joça.
Vamos lá vaporizar!

O governista então propõe,
A oposição rejeita
Mas são os mesmos uns e outros
A "esquerda" e a direita

O que mais que você acha?
Vai esperar a salvação?
Acredite amizade,
salvadoras não virão!

O poder sempre corrompe
Está sempre a espreitar
O individuo se estraga
Quando pode dominar.

Dinamita! Dinamita!
Quero ver dinamitar!
Tocar fogo nesta joça.
Vamos lá vaporizar!

E com a "justiça" o que há?
Essa deixa que eu explico.
Enquanto o pobre apodrece,
"habeas corpus" para o rico!

Dinamita! Dinamita!
Quero ver dinamitar!
Tocar fogo nesta joça.
Vamos lá vaporizar!

Para parar a enganação
Desejo a nossa reação!
Todo o povo no poder!
Nossa verdade vai arder!!!

sábado, janeiro 05, 2008

Solidão caipira (ou "O reclame esteriotipado do interior")

Ah, marvadas...
Dexaram meu coração piquinininho quem nem vaga-lume no pretume duma noite sem lua...

Mais nesse peito bate um coração de cabra forte.
Que no passar do sol-a-sol vai se aprumar como se fosse galo de briga.
Enquanto que os moços que ocêis vão escoiê vão ti trocar pela primeira rapariga.

A curpa é do cupido!
Muleque ranhento e atrapaiado!
Deve di tá mar das vista...

Purquê qui cum tanta minina por aí, ocê mi flecha justo pra essas?
E inda por cima o disgracento me erra o peito das sinhoritas!

Vô ti denunciá pru Curupira!
Por fazê mal ao peito desse caboclo.
E quando o cabeleira di fogo vier ti castigar ocê vai ver o que bom para tosse!

Mais vortando ao meu coração:
Coitadinho, tá que é só terra seca...
Nem a coivara faiz nasce planta nessa vereda.

Verdade que nunca fui um rapaiz charmoso,
E nem de longe forçudo.
Só que pra compensar fui meloso dimais...

Por isso que as moça sempre mangaram de mim.
Ah, mais deixa assim.

O mulheril vai se surpreendê
Quando o caipira aqui sair pegando cada cabrita que vê.

Tarveiz uma delas inté faça dentro di mim chovê
Mais acho mais fácil fazê menos travessura o saci-pererê.

Vamo vê...