segunda-feira, novembro 19, 2007

Lavras secas

Plantei, semeei a terra.
Estive a regar o solo inculto.
Minha energia sutil depositei.

Mas,
Ah... esta vida é cheia de "mases",
Nem tudo que se planta colhe.
A planta que crescerá não é o lavrador,
É sim a semente e o solo que escolhem.

E minha semente que esperava pudesse dar doces e rubras uvas belas.
Que eu com seu sumo fizesse o vinho que me embriaga.
Cresceu seca, criou espinhos, brotou poucas folhas,
Deixou-se sob o inclemente sol do meio-dia, cruel,
Deu-me fel.

E já foram tantas sementes...
Repito: Tantas sementes...

Já não gosto da primavera.
Cansei de ver minhas graciosas sementes tornando-se espinhais,
De testemunhar lavradores tão rudes terem suas açucaradas pêras, tangerinas e maçãs,
Desse solo ingrato que me engana se parecendo fértil.

Sim, já notei,
As sementes só crescem viçosas em mãos de apolos.

Vou para a urbe
Lidar com frio do cinza concreto,
Inspirar a fumaça preta do asfalto duro
Me enfurnar em algum canto mofado.

Os fungos são sempre fungos.
Ao menos pedem pouco,
Ao menos são macios...

Fungos...

sábado, outubro 13, 2007

Diálogo

_ É meu caro: Parece-me que estamos presos.
_ Será mesmo?

_ É o que aparenta: Você ainda não esqueceu.
_ Ora... Deixe-me em paz! Que motivo te leva a relembrar tudo isto novamente?!

_ Você.
_ Como assim eu?

_ Você ainda está preso e leva-me contigo nesta jornada infrutífera.
_ Não, nada de frutos, não espero coisa alguma ao final desta caminhada...

_ Mesmo assim você está preso, ao menos consegue visualizar alguma saída?
_ Não.

_ Perguntei por mera formalidade... Não entendo de onde vem esse desejo tão grande.
_ Eu não sei! Não me pergunte.

_ Mas se nada espera no final, se é que há um fim, como pode isso tudo persistir?
_ Eu não sei, gostaria de saber, mas desconheço.

_ Raios!!! Como não sabe criatura??? Cá estamos nesta tensão desmedida, numa vontade contida e você me afirma que desconhece?
_ Você também é culpado de tudo isso!

_ Eu? Eu sempre lhe contestei!!
_ Sempre? Depois de certo tempo você também concordou, vez ou outra voltava a me questionar, mas este sonho não foi só meu!

_ Sonhos... pare de falar em sonhos.... prefiro os pesadelos estes ao menos são emocionantes.
_ Sim, concordo, mas só os sonhos são doces.

_ Dulçor que nossa lingüa não está apta a alcançar! Por favor esqueça tudo isso.
_ Hipócrita...

_ Sim! É provável! Muitas vezes é preferível trancar algumas coisas bem fundo, nega-las até o fim.
_ Não posso, eu tento, mas não consigo.

_ Uma vez só gostaria de estar a frente deste corpo!
_ Sobraria a mim ser sua má consciência, seu remorso.

_ Exato!
_ Mas eu sou o protagonista, quer queiramos ou não!

_ Por favor... Esquece! Tudo aquilo são fantasmas.
_ Eu não sou imbecil! Eu sei!

_ Você e eu sabemos que precisamos muito mais do que altares para róseas fitas de sandálias inalcançáveis.
_ Sim, cada vez mais, cada vez mais... No entanto não vejo saída no momento. Seria bem mais fácil se você não me lembrasse de certas coisas.

_ Infelizmente este sou eu.
_ Sim, infelizmente estes somos nós.

_ Dentro de um eu...
_ Um eu.

quinta-feira, setembro 27, 2007

A comuna

Lá onde morei,
Lugar este no qual tive meus acertos,
Onde tantas vezes fui corrigido,
Local onde tantas vezes errei.

Neste ambiente em que não se queria governar,
E sequer um único ser se sentia acuado,
Do capital pecado do Capital jás o povo vacinado.

No terreno em que minha infância gozei
Brincando com meus irmãos de duas, quatro ou sei-lá-quantos pés ou patas,
À tarde o sol vinha lavar com seus raios as nossas faces fartas.

E era o principal querer-se o eu como toda a gente,
Foi fundamental enxergar de tudo seu lado vital.

Onde fiz serem trocadas minhas farpas,
E cultivei minhas rusgas afinal.

E, apesar disso, sabia que o sangue de meus companheiros nunca seria derramado,
jamais veria o seio da terra violentado.

Lugar que erigiu seu tributo a vida,
Também foi de seus crimes o tribunal.

O lucro tinha como métrica a diversidade, a paz (quase sempre) consensual.

Mas eu vou voltar.
Apenas tenho que terminar este trabalho que vim realizar.
Vim trazer essa mesma luz às pessoas deste outro lugar.

Minha doce comuna...
Que saudades...

Companheiros, irmãos, minha vida.
Me aguardem.

Eu vou voltar!

domingo, agosto 26, 2007

Se eu morrer

Se eu morrer (e somente se)
Não quero homenagens
estas, as quero em vida

Não façam uma festa, não façam um velório.
Os doces e a comida, que venham enquanto se abrem os meus olhos.

Se eu morrer (coisa que decerto já não tenho tanta certeza).
Não derramem suas lágrimas,
Não sintam saudade,
Prefiro que mostrem agora sua boa vontade.

Ah... se meu corpo vier a padecer...
Se minha luz não perdurar ao anoitecer...
O meu corpo?! Deixem apodrecer!
Façam o que quiserem.
Num momento como este algo assim não há de me apetecer.

O morto sobre a vida não deve ter algum poder
Afinal, o que os mortos tem com a vida ver!

E se um amor eu um dia chegar a conquistar (incertezas, incertezas...)
Peço para, no minuto seguinte, o defunto desprezar.
E preencher o coração com o calor de um outro vivo
Talvez até mais carinhoso e altivo.

E, se eu morrer, façam a revolução!
Esta deve ser feita estando eu vivo ou não!
Façam a estrela da liberdade brilhar!
Coloquem o valor da vida acima de qualquer outra coisa a se pensar.
Mas, se der, façamos isto antes que um verme vá me devorar.

Só uma idéia...
Nem ao menos sei se minha hora vai chegar...

quarta-feira, julho 11, 2007

Nós

Sussurros, os calóricos enleios.
De um entrelaçar de dedos,
Pequenos asseios.

Morna, úmida atmosfera.
Suave desterro,
De nosso interior,
da fera

Rubra, terna a tez que incendeia.
O sangue a querer saltar de nossas veias.

E eis que avançam os instintos famintos
Quebrando regras, esmagando mitos,
Desvendando-nos, tornando-nos desprotegidos.

Olha este estado contemplativo,
Percebe a fala de sons um-a-um tremido.
Seu corpo no meu comprimido.
A convulsão terrena,
A confusão eterna.

E todo ser é sentidos, e todo sinto desmedido.
E tudo em volta, mesmo sendo noite,
é o alvorecer de um dia mais bonito.

quinta-feira, junho 07, 2007

Ei você!

Cá venho para lhe dirigir uma conversa pessoal

Já se sentiu como uma grande pedra bruta não lapidada?
Ora... Vamos lá!
Não me vá dizer que nunca se viu como uma jóia rara apenas esperando uma oportunidade para ofuscar a vista alheia!
Que jamais em sua vida experimentou a sensação de todo um potencial desperdiçado!

Sim... É claro que sim...
Somos todos tão iguais em nossas diferenças que as diferenças de tão igualmente diferentes passam a se tornar novamente iguais.

Mas vem cá....
O que foi esta incompletude?
Para que eu possa entender o que há ou houve dentro de você.
A qual situação vossa senhoria me alude?

Um acidente?
Uma palavra incompreendida?
Uma decisão tardia?
Uma expectativa?

Ou então...

Já sei!

Talvez um grande amor!
É tão óbvio e repetitivo...
É sempre assim.
"Tudo o que você precisa é amor" já disse um tal de John.
Esta palavra que deveria te iluminar e reconfortar acaba por lhe tirar do sério, não é?
Ha ha! A velha contradição humana...

Não é isso?
Não?!
Uhmmmm....

Eureca!
Você quer mudar o mundo!
Acha que as pessoas (ou parte delas) estão erradas e gostaria de mudar tudo!

Adentre ao clube!

Cada pessoa, ou grupo delas, tem uma idéia de mundo ideal.
Esses indivíduos disputam, às vezes inconscientes, a supremacia de seu mundo ideal e....
Oláaaaa!!! Alguém em casa?!! Daí chegamos que não saímos do status quo!
Ha ha! A velha contradição humana...

A velha contradição humana...
Falta-lhe uma oportunidade?
Pois bem, recomendo que tente cria-las.
Mas admito que é bem mais fácil falar do que fazer levando-se em conta o estado atual das coisas.
Hipocrisia mesmo!

Desejo-lhe sorte na sua jornada, que você vire a mais bela e perfeita gema já encontrada.

Quem sabe seu brilho ajude outros tantos milhares de pedregulhos por aí.

terça-feira, maio 01, 2007

Nunca mais

Às vezes é como se o frio da solidão na escuridão imensa do vácuo dominasse.
Procurando por algo que aos velhos tempos a lembrança turva remonta.
Vazio... não; menos, muito menos. Contradição de cheio.

Se ao menos esperasse o tempo.
Se não se apagasse o viço.
Se por entre os dedos não escoasse a fina areia do relógio.

Houvessem disponíveis todas as horas para realizar a utopia...
Minutos para reconsiderar, mudar de idéia.

O permanente, para o mortal, é tão deprimente ou belo
Que deveria ser o eterno passageiro,
Que deveria ser a passagem fugaz,
Que a chance poderia ser dada uma vez mais.

sábado, abril 21, 2007

Eu oráculo

Ânsia, quero tudo.
Não há tempo, mais! mais!
Jamais parar, conhecimento.

Complete-me com teu argumento.

Não há tempo!
Não há vida suficiente.
E não há tempo!
As horas são varridas pelo vento.

Me mostre mais, atiça-me.
Sacia-me, curiosidade natural.

Quero deste fruto do tempo me fartar.
Com uma rima rica navegar neste mar.

Canto-a-canto escrutinar.
E com estas rimas pobres terminar,
Este pedido a serpente de Asclépio que acabo de moldar.

domingo, abril 01, 2007

Óh improvável

Suplico a ti: Vem para mim.
Ao tempo peço que não me esqueça assim.

Quero, necessito, preciso-te.

Degustar o mel dos seus açores,
Desejo seus humores multicolores,
Ser o atual maior amor dos seus amores.

A calma encontrarei em seu abraço.
Receberei o calor de seu corpo lasso.
Repousar minha mente no teu regaço.

Hei de muito mimos para lhe enternecer.
Tornar a ti minha própria deusa, minha única religião,
A água que rega a semente da felicidade depositada no chão,
O alimento que mantém meu corpo são.

Nestes campos graciosos do seu ser,
Meus eus se regozijam,
Você há de entender.

Seja minha e de ti eu serei.
Liberte-me e eu a libertarei.
Adore-me como te adoro e adorarei.

Pupilas que se cruzam,
Que se abram.
Que dobrem os sinos,
Toquem o réquiem para o que existe de mal fadado.

O céu era o limite,
Mas junto contigo tive forças e cruzei.

Somos ao mesmo tempo; que se revele ao mundo!
Súdita e Rainha.
Súdito e Rei.

sábado, março 10, 2007

Esperança

Aperta as entranhas.
Depois de tudo, ainda vale a pena acreditar?

Esperança...
Dói quase tanto como a tristeza.
Lá no fundo fica a apertar.

Já disse alguém: "A esperança acabou com a América Latina".
E acabará contigo! Alerta o pensamento.

Para mentes menos castigadas deixa doces sensações perfumadas e bucólicas.
Melancólicas dúvidas gera num cérebro já a muito dos azedumes farto.

A revelação, que deveria ser sublime, trás agonia quando esses pensamentos desfaz.
"A ignorância é uma benção."

Já houve espera demais!
Não há, não deves cultivar este sentimento vil então!

Mas parece que isso cresce sem água, adubo ou mesmo necessidade de solo ao chão.
Toma forma e se fortalece no espaço árido do ressentimento.
Nesses frios montes de rochas ao vento.

Suas vistosas flores tapam os olhos.
Entorpecem, adiam a percepção da verdade.
Visão que retorna após estar o corpo dilacerado no abismo da realidade.

"A verdade vos libertará!"
Mas não lhe fará feliz.

Decepe os seus olhos.
Isso sou eu quem vos diz.

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Água dura

_ Não.
Uma pancada apenas, mas não doeu.

_ Quem sabe no futuro...
Acontece, as batalhas, não se ganham todas.

_ Não.
Que pena...
Vejo que meus calos começam a crescer.

_ Não, não daria certo.
Raios!! Afinal, qual é o problema?
... Creio que sei: Maldito fenótipo!

Devo perguntar? Não, acho que não.
Já sei! Vou demonstrar!
Será, será? Parece que sim! Finalmente!
Vou abrir meu peito, sim acho que está tudo certo.
Paciência, tudo a seu tempo.
Quantos anos mais?!!
Ah não! Não era coisa alguma! Apenas ilusão!
Meu peito está intumescido, roxo, massacrado, dói.
Raios! Maldito fenótipo...

Olá! Tudo bem com voc...
_ Não!
Já devia saber...

Mas veja só: Que mistério, que beleza, que interessante.
Aproximo-me , converso. Parece que vai tudo bem por um tempo.
Que pena, a separação pode dificultar as coisas.
Mas estou aberto, o que posso fazer? Uma carta!
Pronto! Basta esperar a resposta.
Nossa como demora...
Será? Não, de novo não! Maldição!
Esquece...

Onde está minha armadura? Ah lá está...
Onde está minha couraça?
Meu escudo, onde coloco?
Na esquerda ou na direita?
Definitivamente: Na esquerda.
Minha malha de aço, também esta deve ficar sobre meu peito.
A lança na mão direita.

Afastem-se! Deixem-me passar!
Sou Dom Quixote, e não quero mais me dar com moinhos. Tão pouco com Dulcinea.
Ilusão...
E caso os moinhos me abordem, jamais penetrarão na minha proteção!

Tempo, tempo, tempo.
Meses, dias, anos, semanas.

E após uma longa e dificultosa jornada, eis que se mostra a terra prometida!
Cá encontrarei a nobreza, cá sim terei Dulcinea!

Tempo, tempo.
Meses, dias, semanas.

Olá.
_ Olá!

Até mais.
_ Tchau.

Será ela? Minha querida e amada Dulcinea?
Demonstrar, sim demonstrar!
Mas e minha proteção?
A lança e o escudo parecem exagero...
Descarto-os agora.

Sim, é Dulcinea!

Essa vestimenta me sufoca... Fora com tudo isso!
Perguntar? Sim, vá! Avança nobre guerreiro de coração puro!
_ No futuro...
Sim! No futuro! Ou seja: Será!
Paciência, tudo a seu tempo.
Quantos meses mais?
Não... Não novamente.
Sim, tenha paciência, ao seu tempo, ao seu tempo...
Ahhgg! Dulcinea distraída com sua adaga partiu meu tórax,
minhas vísceras, meu sangue.
Meu sangue. meu sangue.. meu sangue...
Malditos romances cavalarescos.

E tudo cicatriza, mas aquela lâmina deixou pústulas em minha carne.
Feridas esverdeadas que a todo momento doem e putrefam, escorrem...

Esqueçam Dom Quixote, ele morreu.
Vívido apenas um resquício de sua nobreza.
Os moinhos venceram e Dulcinea não aceita cavaleiros excêntricos.

Andarilho cinza, mas não sem vontade, com o busto deformado.
É o que sobrou.

E certa vez uma princesa se aproximou, cortejou, se aconchegou.
Não é o ideal, mas... a essas alturas quem liga? Sim, essa é uma chance real.
E o prurido parecia cessar.
Mas num só momento.
Os ossos ficaram a vista, e a mal fechada ferida novamente estava aberta.
A infecção matou a última célula viva do nobre justiceiro insano.

Escuridão.
Escarro.
Cinzas.
Vazio.
Nulo.
Frio.

Uma estátua numa praça abandonada sob os excrementos dos pombos.

domingo, janeiro 28, 2007

Neo1929

Exclusividade, exclusivo.
A primeira vista interessante, positivo.
Mas em segunda, terceira, ad infinitum,
O significado primeiro e pior do capitalismo.

Exclusivo, excludente.
Palavras que fazem total sentido as moedas indecentes.
Aliena corpos e mentes.
E chama de baderneiros aqueles que nelas não são crentes.

Excludente, exclusão.
Pois o mercado com sua poderosa mão sequer toma conhecimento
das vítimas ensangüentadas, das famílias desfeitas, de sonhos destruídos,
da saúde perdida, da vida sem sentido, e do vazio no, dos seres vivos, o coração.

Produção, produção, produção, produção ...
Animal e humano máquinas são.

E não há tempo para a dor,
e não existe tempo para a vida,
e não há tempo para o amor.

Exclusão, espoliação.
Dignidade e respeito são impedimentos.
São areia que em suas engrenagens
impedem seu recrudescimento.

Sendo assim... a guerra é a solução!
Suas bombas e balas abafam o coro dos descontentamentos.
Seus soldados cessam das mudanças o movimento.
E suas bélicas fábricas constituem seu renascimento.

E os soberbos se tornam os chefes.
E o povão pensa como seu patrão.
Defendendo tudo aquilo ao qual seu acesso nunca permitirão.

Trabalhando demais,
Refletindo de menos,
Comendo seus parcos nacos,
E acreditando no noticiário da televisão.