Plantei, semeei a terra.
Estive a regar o solo inculto.
Minha energia sutil depositei.
Mas,
Ah... esta vida é cheia de "mases",
Nem tudo que se planta colhe.
A planta que crescerá não é o lavrador,
É sim a semente e o solo que escolhem.
E minha semente que esperava pudesse dar doces e rubras uvas belas.
Que eu com seu sumo fizesse o vinho que me embriaga.
Cresceu seca, criou espinhos, brotou poucas folhas,
Deixou-se sob o inclemente sol do meio-dia, cruel,
Deu-me fel.
E já foram tantas sementes...
Repito: Tantas sementes...
Já não gosto da primavera.
Cansei de ver minhas graciosas sementes tornando-se espinhais,
De testemunhar lavradores tão rudes terem suas açucaradas pêras, tangerinas e maçãs,
Desse solo ingrato que me engana se parecendo fértil.
Sim, já notei,
As sementes só crescem viçosas em mãos de apolos.
Vou para a urbe
Lidar com frio do cinza concreto,
Inspirar a fumaça preta do asfalto duro
Me enfurnar em algum canto mofado.
Os fungos são sempre fungos.
Ao menos pedem pouco,
Ao menos são macios...
Fungos...